terça-feira, 2 de outubro de 2012

O que causa assadura quando se pratica esportes?

Há um forte mito de que o surgimento de assaduras durante a prática esportiva indique que a pessoa esteja com sobrepeso e que seja hora de fazer aquela dieta para emagrecer e voltar à forma, mas não é bem assim. Até quem é magro pode sofrer deste mal. A assadura do esporte é causada por fricção e suor, características da movimentação própria do esporte. A atividade por si só leva ao atrito na pele e ao suor.


Acontece que quando a pele raspa excessivamente contra pele ou tecido, provoca uma inflamação cutânea, avermelhada, que pode arder, sangrar e descamar. O suor também pode acometer tipos de pele mais sensíveis pela abrasão provocada pelo sal natural expelido pelo corpo. Com a pele irritada, a umidade salgada do suor faz aumentar a sensação de queimadura e dor e, na hora do banho, o contato com a água quente e o sabonete trazem mais ardência, coceira e incômodo ao local machucado.



Homens e mulheres, desportistas ou amadores, se queixam de assaduras após a prática esportiva. Sou praticante de caminhada e ouço várias reclamações neste sentido. Sei que caminhadores, corredores, ciclistas costumam ter este problema. Braços e pernas sofrem; também podem ser atingidos o pescoço, entre os dedos e as partes de baixo dos pés; há outros pontos vulneráveis: os mamilos. Qualquer área que tenha atrito pode ser alvo de assadura.



Existem providências que devem ser adotadas para que caminhadores, corredores e ciclistas evitem as assaduras: sempre vestir roupas adequadas e manter o corpo hidratado; se necessário, usar um lubrificante na pele.



Vestimentas



Use sempre as roupas adequadas a cada prática esportiva e do tamanho certo. Uma camiseta larga, apesar de confortável, pode até atrapalhar os movimentos e deixar a pele das axilas e dos braços mais desprotegida; uma muito apertada pode aumentar o atrito e ainda prejudicar a circulação sanguínea. Há roupas que podem causar assaduras. Tecidos grossos e ásperos, elásticos que apertam mais do que o necessário, costuras e etiquetas, podem incomodar a ponto de irritar a pele. Prefira roupas feitas com tecidos que absorvam a umidade do corpo, sem costura nem etiqueta. Bermudas de ciclista foram desenhadas bem justas, com tecidos elásticos, a fim de prevenir assaduras e são excelentes para evitar o problema nos membros inferiores. Para os membros superiores, camisetas feitas com modernos tecidos sintéticos, poliamida ou poliéster, que permitem a transpiração e, ao mesmo tempo, tiram o suor da pele, mantendo-a seca. Mulheres comumente têm assaduras em baixo do braço por causa do uso de top, por isso, é preciso escolher um modelo que não provoque atrito à pele.



Suar faz parte da atividade física. É um sinal de que o metabolismo está trabalhando. O uso da roupa adequada, feita de tecido que absorve a umidade e elimine a sensação de molhado é a melhor dica. É preciso ter cuidado com produtos pensando em reduzir a transpiração. Por isso, “pegue leve” com o seu desodorante. Evite, principalmente, produtos que deixem as axilas meladas.



Tem gente que acredita que esta incômoda sensação possa ser evitada com o uso de talco, amido de milho (maisena) ou fécula de batata. Conheço muitos pneumologistas, pediatras e dermatologistas que dizem que o uso de talco pode ter relação com doenças pulmonares, por conta de inalar o pó, e até câncer, por causa de tapar os poros e inibir a transpiração. Há pessoas que defendem usar os produtos vegetais por não levantarem tantas partículas quanto o talco, produzido com um mineral e refinado até ficar bem mais leve. Dizem que o produto em pó ajuda a manter a pele seca e sei que ainda tem muita gente que prefere, talvez por conta da tradição, pois a maisena era usada em bebês quando não havia produtos específicos para assadura. O fato é que todo o cuidado é pouco para não inalar e também, por via das dúvidas, não deixar o produto muito tempo na pele. O uso constante de produtos em pó altera a hidratação natural da pele e pode provocar ressecamento e descamação. Talvez o melhor fosse não usar mesmo.



Só para lembrar: trate bem da pele. O corpo elimina toxinas pela transpiração. É preciso ter cuidado com o uso de produtos antitranspirante, que têm componentes que impedem a função da transpiração. Antiperspirantes, no geral, são recomendados por dermatologistas em caso de sudorose, que é uma doença caracterizada pelo grande volume de suor.



Outra questão em relação à umidade da pele que eu gostaria de levantar é a de tomar banho de mar e sair para caminhar ou praticar futebol ou vôlei. O sal que fica na pela também pode provocar assaduras. Não são todos que podem deixar o sal agir na pele sem que tenha alguma consequência.



Lubrificação



Os lubrificantes servem para fazer com que a pele delize sem atrito. Vaselina líquida ou sólida pode ser aplicada antes de caminhar, correr ou pedalar. Cremes hidratantes e bálsamos também podem ser usados para prevenir assaduras. Há diferentes produtos hidratantes a serem utilizados para manter o corpo hidratado. O lubrificante pode ser aplicado no meio das pernas e axilas e nas áreas que perceber que vão sofrer com o atrito. Atletas costumam usar vaselina líquida ou em creme. O creme é mais fácil de sair no banho e, geralmente, não mancha a roupa. Ao escolher a vaselina é preciso ter um cuidado: ela não deve conter bactericidas e anestésicos, que, com o uso frequente, acabam por reduzir a sensibilidade da região. Aplique vaselina, pomadas ou adesivos próprios para proteger os mamilos. No mercado há produtos específicos para atletas, que protegem contra a abrasão e o mamilo doloroso. Por incrível que pareça, a pele naturalmente seca tende a sofrer mais com assaduras. Convém usar um hidratante após o banho para combater a secura. Cabe lembrar de usar protetor solar sempre.



Hidratação



Beber água é fundamental para manter a hidratação do corpo durante a atividade física. Beba antes, durante e depois. O corpo bem hidratado encontra o equilíbrio, forte aliado para o controle da temperatura interna entre outras funções. A hidratação permite que a perspiração ocorra livremente, sem secar em cristais de sal, o que poderia aumentar risco de assaduras. Tomar água é vital. Parece óbvio dizer isto, mas há pessoas que não tomam água o suficiente. Para conseguir ter o hábito de beber água, sugiro encontrar o prazer nesta ação tão simples. Perceba o quanto é bom tomar água em um bonito copo de vidro, até parece que fica mais gostosa. A atenção com a hidratação deve ser redobrada para pessoas que moram ou praticam esporte em regiões de clima muito seco. Lembro-me de quando morei em Brasília e tomava muito mais água do que agora, que moro em São Paulo.



Tratamento



Em caso de assadura, é preciso tratar o quanto antes para que o quadro não se agrave. O ideal sempre é ir ao médico para avaliar a intensidade da assadura e obter a recomendação do medicamento correto para cada caso, leve, intermediário ou mais agressivo. Quanto ao tratamento, o procedimento é muito semelhante ao de uma ferida aberta: lavar com água e sabonete, limpar com um antisséptico para prevenir infecção e cobrir com gaze estéril ou fazer curativo que permita que a pele respire até cicatrizar. Como algumas micoses ou alergias apresentam sintomas parecidos com os de uma assadura simples, convém consultar um dermatologista. Não se deve aplicar pomada bactericida sem recomendação médica. As assaduras que acometem atletas também podem ser provenientes de fungos.



Um esclarecimento: a assadura do esporte é um tanto diferente da assadura do bebê, também conhecida como dermatite de fralda e que tem como causa o contato com impurezas, acidez e micro-organismos das fezes e urina. No entanto, algumas pomadas usadas na prevenção e tratamento da pele do bebê também podem ser utilizadas por adultos que praticam esporte. O produto precisa conter emolientes (óleo de amendôa ou girassol e lanolina), vitaminas E, A, D e B5 para proteger e regenerar as células da pele. Não utilize medicamentos sem consultar um médico.



*Artigo escrito pelo Dr. Fabio Ferraz do Amaral Ravaglia, cirurgião ortopedista e traumatologista, além de presidente, desde 2005, do Instituto Ortopedia & Saúde (IOS). Artigo retirado do site Segs.

Fonte: Portal da Educação Física

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